ABC
Advertências:
Apresentamos informações gerais sofre cefaleias.
A sua leitura e a sua compreensão não habilitam os cidadãos a fazer diagnósticos, nem a propor orientações, nem a sugerir tratamentos; esses são trabalhos médicos.
Estes textos não servem como material de estudo para alunos de medicina, nem como actualização teórica para profissionais de saúde; as informações são correctas, mas o seu conteúdo científico é insuficiente.
Em sentido estrito “Cefaleia” é a palavra médica para designar desconforto ou dor de cabeça. No entanto, uma cefaleia raramente aparece como sintoma isolado.
Algumas entidades classificadas genericamente como “Cefaleias” apresentam uma grande variedade de outros sintomas para além da dor (ver abaixo, por exemplo, as características da enxaqueca).
A Classificação Internacional de Cefaleias inclui 14 grandes tipos. Estes tipos principais dividem-se e subdividem-se em mais de 200 formas diferentes.
Por exemplo: A enxaqueca, um dos grandes tipos, divide-se em cerca de 20 formas diferentes.
Podemos dizer que as cefaleias primárias são uma doença em si mesmas, não traduzindo ou expressando outros problemas de saúde.
As cefaleias primárias são a maioria (cerca de 90%).
Exemplos: cefaleias de tipo tensão, enxaquecas, cefaleias em salva.
A chave do diagnóstico está na história clínica: anamnese (entrevista) e exame físico, incluindo exame neurológico. No entanto, por vezes, é necessário recorrer a exames complementares.
A enxaqueca é uma entidade primária e paroxística (episódios exuberantes intervalados por períodos sem sintomas). Os sintomas impedem frequentemente o trabalho ou o estudo.
A dor geralmente é:
- pulsátil (como se o coração batesse dentro da cabeça); este latejar agrava-se com o esforço físico ou com movimentos da cabeça.
- hemicraniana (só de um lado), mas podendo localizar-se em qualquer parte da cabeça.
- acompanhada de náuseas, vómitos, intolerância à luz (fotofobia), ao ruído (fonofobia) e a alguns cheiros; geralmente as pessoas procuram um local escuro e sossegado onde possam repousar ou adormecer.
Um episódio pode durar de poucas horas até três dias. Entre as crises, habitualmente não há queixas.
A periodicidade é muito variável; há pessoas que têm 2 crises por semana; outras terão apenas algumas ao longo da vida.
Alguns tipos de enxaquecas podem apresentar sintomas mais complexos (enxaquecas com aura).
É uma enxaqueca que inclui sintomas neurológicos transitórios, com origem atribuível a certas zonas do encéfalo. Os restantes sintomas são idênticos aos da enxaqueca sem aura
As auras mais comum são perturbações exuberantes e passageiras da visão; manifestam-se por perda de visão de um dos lados do campo visual (que não de um dos olhos), turvação das imagens, percepção de pontos luminosos, de figuras geométricas ou de zig-zags brilhantes.
Outras auras podem traduzir-se por formigueiro ou dormência de um lado da face ou de uma das mãos. Há pessoas que têm dificuldades em falar ou mesmo paralisias passageiras dos membros, habitualmente só de um dos lados do corpo.
Estas alterações duram cerca de 10 a 30 minutos e antecedem a dor.
É um tipo pouco comum de enxaqueca; apenas cerca de 15% de todas as pessoas com enxaqueca terão aura.
Nem por isso. Na verdade há algumas características da enxaqueca muito associadas ao ciclo reprodutivo feminino: incremento de prevalência depois da primeira menstruação; predilecção temporal frequente pelo período menstrual; agravamento ocasional pelo pílula anticoncepcional ou terapêutica hormonal; atenuação ou desaparecimento durante a gravidez ou na menopausa.
Os rapazes e as meninas são atingidos por igual. A partir da adolescência, a enxaqueca é mais frequente no sexo feminino. No geral, a enxaqueca será 2 a 3 vezes mais prevalente no sexo feminino. Na enxaqueca sem aura teremos 5 mulheres para 1 homem. Na enxaqueca com aura teremos 3 mulheres para 2 homens.
Sim. A dor tende a ser bilateral, menos intensa e de duração mais curta. A fonofobia ou fotofobia podem ser deduzidas do comportamento de crianças pequenas, incapazes de descrever os sintomas. Os vómitos e olheiras pode ser exuberantes. As perturbações de horários de sono e refeições são factores precipitantes comuns.
O tratamento da crises de enxaqueca na criança é mais fácil do que no adulto; o sono dá habitualmente bons resultados.
Na criança a localização occipital da cefaleia não é normal; se acontecer a criança deve ser observada por um especialista. Tal como as crianças muito pequenas, com cefaleias há pouco tempo, com vómitos matinais ou outros sintomas incomuns.
Há pessoas em que a enxaqueca aparece preferencialmente ao fim de semana. Estas crises podem ser precipitadas por privação, excesso ou alteração do horário de sono, pela falha do pequeno-almoço ou do café habitual da manhã. A descompressão do fim-de-semana (suspensão rápida do stress sócio-profissional), o abuso de bebidas alcoólicas ou de drogas também poderão ter algum papel. Aconselha-se estas pessoas a ponderar as mudanças radicais de estilo de vida durante o fim de semana.
Algumas pessoas conseguem identificar factores precipitantes para as suas crises. Os mais frequentes são: queijos, chocolates, morangos, mariscos, vinhos, molhos artificiais, alterações do ritmo de sono, stress, menstruação, jejum, exercício físico ou até mesmo um pequeno traumatismo (jogar à bola de cabeça).
Outras pessoas não conseguem identificar nenhum precipitante.
Os factores desencadeantes não são a causa; só provocam crises em pessoas susceptíveis.
Algumas mulheres notam um agravamento da enxaqueca com a pílula anticoncepcional. Nesse caso a situação deve ser apresentada ao médico. Algumas mulheres notam uma melhoria e outras não relatam nenhuma alteração.
A pílula é desaconselhada a mulheres fumadores com enxaqueca com aura, dado o risco acrescido para doenças vasculares.
Não, definitivamente. As náuseas (enjoos) e vómitos das crises de enxaqueca têm origem cerebral. Aparecem em pessoas com vesícula biliar e fígado perfeitos. Os sintomas digestivos são uma consequência da enxaqueca (e não a sua causa).
Não tem cura, mas tem tratamento. Há medicamentos e comportamentos que podem reduzir a frequência, duração ou intensidade das crises. Os doentes devem fazer um registo-calendário das crises e factos associados. Isso ajudará a definir uma estratégia de tratamento.
As cefaleias podem ser tratadas pelo médico de família. Em situações difíceis os doentes devem ser encaminhados para especialistas. À partida, os neurologistas ou os neuropediatras distinguirão mais facilmente as cefaleias primárias das secundárias, e terão mais experiência no seu tratamento. Os doentes com cefaleias que traduzem problemas psíquicos relevantes deverão ser tratados por psiquiatras. Só excepcionalmente é necessário recorrer a outras especialidades médicas.
A Cefaleia em Salva (classicamente conhecida por Cluster Headache) é um tipo raro de dor ocular e para-orbitária. Os doentes descrevem-na como a sua experiência dolorosa mais violenta de sempre.
Aparece apenas de um lado da fronte, e pode acompanhar-se de lacrimejo, queda da pálpebra superior, olho vermelho, pupila pequena e rinorreia (pingo pelo nariz).
Atinge quase exclusivamente o sexo masculino, aparecendo pela primeira vez no adulto jovem.
Dura pouco mais de meia hora. Pode repetir-se várias vezes num dia, durante 4 a 8 semanas (salva); pode desaparecer durante meses ou anos.
Tem algumas predilecção por certas horas do dia (especialmente pelo início da madrugada), pela Primavera e Outono.
Os doentes ficam muito inquietos e agitados durante as crises, ao contrário do que acontece aos sofredores de enxaqueca.
Uma das características mais curiosas do Cluster Headache é a melhoria das crises com a inalação de oxigénio.
Não. A enxaqueca é uma das cefaleias mais frequentes, significativas e bem caracterizadas. Mas, há muitas outras.
De um ponto de vista prático, poderemos dividir as cefaleias em dois grandes grupos:
- primárias (ou idiopáticas)
- secundárias (ou sintomáticas).
As cefaleias secundárias são sintomas de doenças do sistema nervoso ou de outros órgãos do corpo humano.
As cefaleias secundárias podem traduzir situações comuns. Exemplos: gripe, intoxicação ou abstinência alcoólica, pequenos traumatismos cranianos, hipoglicemia (baixa de açucar), crise de hipertensão arterial.
As cefaleias secundárias a doenças graves do sistema nervoso (meningites, tumores, hemorragias por rotura de aneurismas) são uma minoria.
O exame neurológico não um exame complementar ou tecnológico.
O exame neurológico é um conjunto de testes feito no consultório, com a ajuda de alguns instrumentos simples (oftalmoscópio, martelo de reflexos, diapasão, alfinete, fontes de frio e calor).
O médico pode testar, com ênfases variáveis, diferentes funções de cérebro, cerebelo, tronco cerebral, medula, raízes, plexos, nervos, placa motora e músculos.
O exame neurológico tem uma sequência coerente, mas deve ser adaptado caso-a-caso em função da anamnese (entrevista prévia). A interpretação do exame neurológico exige sólidos conhecimentos de anatomia e fisiologia do sistema nervoso, e deve ser conjugada com anamnese.
No caso das cefaleias, a observação do fundo de olho, usando um oftalmoscópio, é uma parte muito importante do exame neurológico.
Não. As características descritas acima são as mais significativas. Não é obrigatório que estejam todas simultaneamente presentes. O diagnóstico é feito pelo conjunto e não por nenhuma característica particular (mesmo que muito clássica).
Por exemplo:
- a unilateralidade alternante (ora esquerda, ora direita) é muito típica; mas, há pessoas em que a cefaleia é sempre do mesmo lado; há mesmo casos de localização bilateral;
- os vómitos são característicos, mas estão ausentes em metade das crises.
Aceita-se que 8 a 15% dos cidadãos dos países ocidentais sofrem de enxaqueca. A enxaqueca é mais frequente do que a asma ou a diabetes, por exemplo. O facto de atingir as pessoas nas idades mais produtiva da vida, implica grandes custos económicos, sociais e familiares.
Habitualmente entre os 15 e os 40 anos, mas pode aparecer na infância ou logo após a menarca (primeira menstruação). Se aparecer pela primeira vez depois dos 45 anos deveremos excluir outras causas.
Não. A enxaqueca aparece de modo recorrente, várias vezes ao longo da vida, mas sempre com intervalos completamente livres.
Se uma enxaqueca se torna uma cefaleia diária, provavelmente existe um longo uso de analgésicos ou de outros medicamentos. O abuso medicamentoso pode converter uma enxaqueca numa cefaleia crónica diária; é uma situação que exige o apoio de um especialista.
Muitas pessoas que se queixam de enxaquecas diárias têm na realidade uma cefaleia de tensão ou então cefaleias combinadas (enxaqueca e cefaleia de tensão).
A enxaqueca é provocada por mecanismos muito complexos e muito bem estudados.
Podemos dizer que se deve a uma combinação de processos a nível cerebral: excitação/ depressão de células, dilatação de artérias e libertação de substâncias químicas. As pessoas com enxaqueca serão mais sensíveis a certos estímulos (ambientais ou do seu próprio organismo) que podem desencadear esses complicados processos cerebrais.
Pensa-se que haverá alguma susceptibilidade genética à enxaqueca; há mesmos tipos hereditários de enxaqueca com aura.
As pessoas que tomam café com regularidade podem ter cefaleias se interrompem esse hábito. Muitas pessoas melhoram com o café durante as crises de enxaqueca, mas algumas podem piorar.
Não. Ao contrário de algumas crenças muito populares, a Enxaqueca nada tem a ver com problemas de visão. Tão pouco a hipertensão arterial, sinusites ou problemas na coluna cervical podem provocar enxaquecas.
O diagnóstico da enxaqueca é feito pela história clínica (interrogatório e observação). Os resultados dos exames complementares são normais.
Em casos raros e mais estranhos de enxaqueca, havendo dúvidas, o médico poderá recorrer a exames de imagem (TAC ou ressonância magnética) para excluir outras doenças. O electroencefalograma não é útil.
Os tratamentos são de 2 tipos:
Tratamento sintomático (na crise aguda)
O doente deverá deitar-se num local sossegado e escuro. Pode ainda aplicar pressão ou frio no local da dor. Os medicamentos recomendados para a crise de enxaqueca são: analgésicos simples, anti-inflamatórios e triptanos (agonistas da serotonina). Os médicos têm critérios para escolher a melhor solução para cada doente.
Tratamento profiláctico
As pessoas com enxaqueca deverão construir calendários de crises que permitam identificar factores precipitantes e valorizar o impacto das crises na qualidade de vida.
O primeiro passo da profilaxia poderá ser o evitamento dos factores precipitantes, se isso for possível.
Em algumas pessoas, em alguns períodos da vida, será necessário recorrer a medicamentos de uso diário para diminuir as crises (em frequência, em duração ou em intensidade). Não há medicamentos especificamente desenvolvidos para a profilaxia da enxaqueca. No entanto, há medicamentos criados para outros fins que demonstraram a sua eficácia (alguns anti-hipertensores, alguns antidepressivos, alguns antiepilépticos). Os médicos têm critérios para escolher o medicamento mais ajustado a cada doente.
A cefaleia de tensão é a mais frequente das cefaleias primárias. Caracteriza-se por uma dor ligeira a moderada, como um peso, pressão, aperto ou moinha. Muitas vezes é sentida como um capacete pesado ou uma banda opressiva. Pode acompanhar-se de náuseas e fonofobia (intolerância ao ruído). Por vezes, verifica-se uma contracção excessiva dos músculos do pescoço e ombros. Pode durar horas ou dias e em alguns casos é praticamente contínua.
Distingue-se da enxaqueca porque, na maioria dos casos a cefaleia de tensão:
- é bilateral,
- a intensidade é mais leve;
- não é latejante;
- não se exacerba com o esforço físico;
- não se acompanha de vómitos;
- o ruído é menos tolerado do que a luz.
A cefaleia de tensão divide-se em:
- episódica pouco frequente (menos de 1 dia por mês)
- episódica frequente (1 a 15 dias por mês)
- crónica (mais de 15 dias por mês).
Sim, para o endereço direccao@cefaleias-spc.com .
Se as questões colocadas forem consideradas relevantes, serão editadas e colocadas neste “ABC”.
Não nos pronunciaremos sobre casos concretos ou situações pessoais. Essas deverão ser colocadas ao médico assistente.
CONTACTOS
Sociedade Portuguesa de Cefaleias
Serviço de Neurologia - Hospital Prof Doutor Fernando Fonseca
IC 19 - 2720 - 276 AMADORA
Endereço Fiscal - Av. João Crisóstomo - 30 - 5º - 1050- 127 Lisboa